Clube de Ténis do Estoril – 80 Anos
Olívio Guerreiro
O pequeno que jogava bem
Olívio Guerreiro nasceu na serra algarvia e nada faria prever que viesse a ser tenista de competição e uma referência, como professor, no Clube de Ténis do Estoril. Mas a Vida tem estas coisas e, quando menos se espera, as oportunidades surgem.
Aos doze anos vem para Lisboa, onde vivia uma tia e um primo da sua idade. Faria logo vários amigos, alguns bastante abonados. Não os podendo acompanhar financeiramente nem querendo aceitar que eles lhes pagassem os divertimentos, os dois procurariam emprego na Praia do Tamariz. O primo ficaria ao balcão e Olívio levava bebidas aos banhistas que se encontravam no areal. Segundo ele, esses dois meses do verão de 1957, foram muito proveitosos tendo ganho imensas gorjetas vindo, por isso, para casa «com os bolsos cheio de dinheiro».
Com o fim dessa época balnear, seria dispensado. O concessionário da praia, Lima Mayer avisa-os que ia haver um importante torneio no Clube de Ténis e que iriam contratar apanhadores de bolas. E assim foi. Terminado o torneio, que duraria 8 dias, Olívio acabaria por ficar. A partir daí, a sua vida iria mudar.
O ténis desde logo o atraiu, o mesmo acontecendo com outros seus colegas. É então que estes miúdos conseguem autorização dos guardas da Estoril Plage para montarem um campo improvisado no pinhal murado que existia em frente ao Clube (hoje Feira do Artesanato). As horas de almoço – sempre esperadas com ansiedade – eram para jogar, com raquetes velhas emprestadas, mesmo que debaixo de chuva. «Era uma paixão» relembra Olívio. Durante as horas de trabalho, vai prestando atenção a tudo o que vê e ouve, sobretudo ao que o treinador dizia aos alunos. Depois, à hora de almoço punha em prática o que tinha visto e ouvido.
Um dia, um sócio do clube, o pintor catalão Luíz Alzina viu-o jogar. “Ó pequeno tu jogas muito bem, o Torok já te viu jogar? “perguntou-lhe. Perante a resposta negativa do rapaz, quando encontrou, horas depois, Geza Torok avisá-lo que havia um miúdo, apanhador de bolas, com muito jeito. Torok acabaria por o chamar e concorda com a impressão tida por Alzina. Ensina-lhe, então alguns exercícios e manda-o praticar. Dois meses depois, volta a avaliá-lo. Ficaria impressionado com o que viu e autoriza-o a jogar no clube com alguns alunos.
Pouco tempo depois, ainda antes de completar 15 anos, Olívio, torna-se assistente de Geza Torok e começa a dar aulas aos mais novos.
O seu futuro estava traçado.
O treinador inscreve-o no Clube nos torneios para o seu escalão etário. Ganha todos os jogos. Os progressos foram tão rápidos que Torok inscreve-o nos Juniores. No primeiro ano apenas perderia com Adolfo Pinto Leite. No segundo, ganha o campeonato a Raul Leitão. Automaticamente passava para a segunda categoria. Quando ganhou o campeonato de segunda categoria passa para a 1ª categoria.
Será a partir dessa altura que começa a receber algum apoio da Federação. Também Benito Garcia o apoiaria pagando-lhe as cotas do Clube.
No final da época, todos os clubes de ténis do país reuniam-se, em Setembro, no Hotel de Turismo do Luso. Era o encontro anual da “família do ténis”. Para além das provas ainda havia um baile com orquestra. Era uma festa e todos adoravam ir. Apesar disso, as rivalidades, nunca deixariam de estar presentes. E a prova é que, porventura por pressão de alguns clubes, a Federação iria impedir Olívio – que arrebatava para o Clube do Estoril a maior parte dos prémios – de participar nos torneios. A razão invocada era que ele, dando aulas, era considerado profissional e os torneios só podiam ser para amadores. Foi um enorme balde de água fria. Entretanto era chamado para a tropa. No regresso da Guiné, quatro anos depois Olívio pediria à Federação para ser considerado amador e poder voltar a competir. Olívio Guerreiro que hoje aos 81 anos continua a jogar, poderia ter tido uma carreira diferente já que teve vários convites, nomeadamente para a Madeira e para Inglaterra. Como não gostava nem ilhas nem de andar de avião ficaria sempre ligado ao Estoril. A propósito dessa sua decisão diria “Nunca quis sair daqui, sou fiel”. Uma grande qualidade.