Clube de Ténis do Estoril – 80 Anos


António Capucho
Um clã tenista
António Capucho que, além de diversas funções nos órgãos do Estado, foi presidente da Câmara Municipal de Cascais (2001-2011), nasceu e viveu numa família onde todos ou quase todos eram tenistas. Grandes entusiastas desta modalidade, os progenitores jogariam quase toda a vida. O pai, António Emídio Ferreira de Mesquita da Silva Capucho seria em 1945 um dos fundadores do Clube de Ténis do Estoril. Grande coleccionador de arte, nomeadamente de azulejos e cerâmica, tinha, segundo o filho, dois passatempos: o ténis, que jogava no clube aos fins-de-semana e a praia do Guincho, onde ia com frequência com a família.
Com uma extensa prole, António Capucho (pai) e a sua mulher, Maria Teresa de Almeida d’Orey, mais conhecida por Tareca, transmitiram aos filhos o gosto pelo ténis. Todos viriam a ser membros do clube, embora uns praticassem mais que outros. António Capucho (filho) começaria assim a jogar aos doze anos. É possível que, à semelhança do que era hábito até então, jogasse não como hoje se faz, com sapatos de ténis, mas com alpercatas de corda que eram compradas na drogaria de S. João do Estoril e que ainda permanece aberta na Marginal.
Dos nove irmãos, António Capucho foi o que mais se distinguiu no ténis tendo chegado a ser, em 1962, vice-campeão nacional de Juniores. Participaria ainda em torneios internacionais. Contudo, segundo ele, e ao contrário do que acontecia noutros países, cujas federações, nomeadamente em Espanha, apoiavam fortemente os seus desportistas, aqui esse apoio era praticamente nulo.
António Capucho, a este propósito, refere um episódio em 1962 quando deveria ter viajado para um torneio em Espanha com Manuel Ribeiro, filho do Nuno banheiro da Praia da Poça, em S. João. Este, como tantos outros de poucas posses, começaria por ser apanhador de bolas tornando-se, posteriormente, um bom tenista. Como a Federação não lhe explicou que precisava de passaporte, Manuel Ribeiro acabaria por não poder passar a fronteira.
Como tantos outros da sua geração, foi aluno no Clube de Ténis do Estoril de Geza Torok, um tenista profissional experiente de origem húngara, radicado em Cascais desde finais dos anos 20.
Do clube original tem boas recordações, embora lamente o facto de nessa altura as direções não darem grande importância aos juniores, não lhes permitindo mesmo jogar no campo central, que «estava reservado para os senhores». António Capucho teria, por causa disso, grandes discussões com a Direção do clube.
Ao contrário do que viria a acontecer com outros jovens, o clube não seria para ele um ponto de encontros de amigos, mas apenas o local para jogar. Aliás, conta Capucho que não havia nessa altura muitos jovens praticantes. Relembra apenas alguns nomes: os gémeos Luís e José Roquete, João Capucho, Pedro e José Abreu Loureiro, Jorge Figueiredo e alguns estrangeiros.
Na sua juventude, o seu grupo de amigos não era o do Estoril, mas o do “Beco”, designação dada às ruas entre a Marginal e o mar, em S. João do Estoril, onde a família Capucho morava. Isso explica porque o clube não teve para ele a vertente de convívio.
Antes de se instalar em La Giralda, no Estoril, os Condes de Barcelona viveram temporariamente na Casa da Rocha, que ficava mesmo em frente à casa da família Capucho. Sendo praticamente da mesma idade, António Capucho ainda brincaria com o Afonso, o filho mais novo do casal real. O infante espanhol viria a falecer em 1956 tragicamente, com um tiro, enquanto brincava com o irmão, Juan Carlos, o rei emérito espanhol.
Aos 18 anos António Capucho abandonaria a competição a nível internacional, mas continuaria a jogar e a competir, com assiduidade, nos torneios a nível nacional. A experiência negativa que tivera em Espanha (perderia todos os jogos), mostrara-lhe que seria muito difícil atingir o desempenho dos desportistas espanhóis que eram em muito maior número e muito mais bem preparados. A diferença de políticas desportivas entre os dois países ibéricos era abissal. Se aqui havia, de norte a sul, uma dúzia de carolas que se dedicavam ao ténis, lá o número de jovens praticantes, só num clube, era superior a uma centena. Além disso «tinham treinador de borla, raquete de borla, sapatos de borla, etc.». Por cá, o panorama era bem diferente. Ciente disso e, provavelmente, por ter outros objectivos na vida, deixaria a competição no circuito internacional, mas não a prática do ténis.