Clube de Ténis do Estoril – 80 Anos


Maria do Carmo Arnoso
Ténis no feminino
Maria do Carmo Arnoso, mais conhecida por Bebé, está ligada ao ténis desde sempre.
Neta do Conde de Arnoso, o ténis, era, na sua família, uma prática habitual. Desde a introdução deste desporto, através dos irmãos Pinto Basto ou por contacto com a comunidade inglesa de Carcavelos, o Lawn Ténnis começaria a ser jogado no Real Clube da Parada, em Cascais, nos finais do século XIX, por homens e senhoras da melhor sociedade portuguesa a banhos em Cascais onde, o rei veraneava no Palácio da Cidadela.
O próprio monarca, o rei D. Carlos, seria um bom tenista disputando partidas singulares ou a pares no campo do Palácio das Necessidades e no verão, na Parada, em Cascais (hoje Museu do Mar).
Assim, não é de estranhar que Maria do Carmo, começasse a jogar desde os doze anos. De início, usaria uma raqueta do irmão mais velho, quase maior que ela, e treinava nos campos da Parada quando vinha nas férias de verão para casa da avó Matilde onde nascera, a casa de S. Bernardo, hoje sede da Marina de Cascais.
Por outro lado, na Quinta da Regaleira em Sintra, que era também dos outros avôs, havia um campo de ténis onde tios e primos jogavam com frequência. Aí, os mais novos, Bebé incluída, eram incumbidos de apanhar as bolas….
Seria pela mão de João Valdez que lhe reconheceu uma aptidão nata para o ténis, que entraria para o Clube de Ténis do Estoril. Apesar da joia de sócio ser elevada a mãe de Maria do Carmo, depois de alguma relutância, acabaria por concordar. Bebé acredita, porém, que a sua entrada foi muito facilitada, pagando, porventura menos do que era normal.
Seria muito acarinhada no clube. Geza Torok – que a chamava de Carmelita – iria dar-lhe algumas lições de graça e Olívio Guerreiro – que também viria a ser treinador – “bateria muitas bolas” com ela.
Sendo simpática e uma das poucas raparigas a joga beneficiária de alguns apoios extra. Jorge Fidalgo, que gostava de apoiar tenistas promissores vai oferecer-lhe raquetes. Também o industrial António Almeida, dono da fábrica de massas Leões faria apostas com Bebé Arnoso para lhe poder oferecer algum equipamento que ela necessitasse.
Nessa época, não havia muitas mulheres/raparigas a frequentarem o Clube. Bebé que jogou com todas ou quase todas, relembra algumas: Tareca Capucho, Peggy Cohen – tenista de 1ª categoria- Isabel Costa, Ruth Aswin, Debora Fiúza, Mariete Silva, Fernanda Monteiro, Maria da Luz Palmeirim, Nitinha Salazar Leite, Chantal Stucky de Quai e Teresa O’Neill. Esta última, tinha uma aula semanal com Geza Torok. Sendo asmática não aguentava a hora inteira e Maria do Carmo, que era muito amiga dela, aproveitava o tempo restante.
Para Bebé Arnoso o Clube, que ela so frequentava aos fins-de-semana, foi fundamental. Tendo perdido os pais muito cedo, encontraria aqui um ambiente amigo e descontraído. Como viajavam muito pelo país para participarem em torneios interclubes, essas amizades ainda se reforçaram mais e, como ela refere «eramos quase todos da mesma idade e era muito divertido».
O grande rival do Clube do Estoril era o portuense e seleto Clube da Foz. Isso não impediria que confraternizassem todos sem grandes complicações. Embora fosse uma tenista de1ª categoria, Maria do Carmo chegou a ter parceiros nas três categorias.
Como a preparação não era diária e não havia muito apoio técnico, Maria do Carmo Arnoso, como todos os outros, acabaria por sofrer várias lesões e distensões musculares. Relembra que uma vez teve de jogar com as coxas ligadas por causa das dores. Com João Roquete chegou a ser campeã nacional.
Ainda a tentaram com uma carreira internacional mas Bebé, não quis dar esse desgosto aos avós, com quem vivia depois da morte da mãe e que não veriam nada com bons olhos que a neta andasse sozinha a jogar pelo estrangeiro.
Em 1973 faria parte da equipa que organizou, no Clube de Ténis do Estoril, o I Torneio Internacional de Ténis que teria um cartaz desenhado pela artista plástica Maluda.
Para além dela, a equipa era constituída por, Luís Serra, o cabeça da organização, Zé Funchal, encarregado de angariar patrocinadores, Felipe Soares Franco, que viria a ser, mais tarde presidente do clube e Fernanda Monteiro. A pedido desta última, em 1977, desfilaria numa passagem de modelos no Hotel Mundial, em Lisboa, por, à última hora ter falhado uma modelo profissional a Fernanda que organizava esse evento. Maria do Carmo, ainda pediria ajuda a uma prima, que fizera o curso de modelo, indicações de como deveria desfilar para não deixar mal a amiga. E, a verdade, é que o seu desempenho foi excelente. Poderia ter seguido também essa carreira mas, o seu destino seria outro muito diferente.
Já casada vai viver para Madrid embora viesse de vez em quando a Portugal. João Lagos que, desde há muito queria que ela fosse trabalhar com ele, quando Bebé Arnoso regressou, em 1976, definitivamente de Espanha voltou a falar-lhe no assunto. Dessa vez aceitou. Nasceria assim uma parceria de sucesso que duraria trinta anos. Segundo Olívio Guerreiro, Bebé Arnoso seria o braço direito de Lagos tendo com ele organizado um pouco de tudo de provas de hipismo a campeonatos de ténis.
No final dos anos 80, João Lagos começa a pensar no que viria a ser o Estoril Open, depois de, em 1987, ter organizado, em Cascais, um Challenger, que repetiu no ano seguinte.
Para Maria de Carmo Arnoso, este seria o seu «bebé». Numa primeira fase iria a Roma com Maud Queiroz Pereira, mulher de João Lagos. O objectivo era perceber como era o caderno de encargos do Torneio Internacional de Roma. O modelo, com pequenas alterações, seria aqui, depois replicado. Maria do Carmo ficaria encarregue de toda a logística e fez questão que esta fosse Top. Durante o evento, cuja primeira edição foi em 1990, Bebé nunca teve tempo de assistir aos jogos sempre atarefada com outros assuntos. Um deles era dar formação às equipas de juízes de linha, de árbitros e, sobretudo dos “apanha bolas”. Para ela, num torneio, estes últimos têm um papel fundamental sendo, por isso os mais importantes para o sucesso das provas.
Seria ainda Maria do Carmo quem entrevistava pessoalmente todos os que vinham integrar estas equipas fazendo, depois a seleção final. A partir de 1998, mesmo continuando a trabalhar com João Lagos desligar-se-ia do Estoril Open. Três anos depois, em 2001, mesmo que, com pena, reformava-se. Na conversa que tivemos com Maria do Carmo Arnoso sobre o clube sobressairia uma frase. «Eramos uma família». Está tudo dito.