Clube de Ténis do Estoril – 80 Anos

Deborah Fiuza de Mello

Uma tenista de exceção

Deborah Fiuza é uma mulher serena e de bem com a Vida. Apesar dos seus inúmeros triunfos e das dezenas de taças que ganhou ao longo da sua carreira não vive no passado. Relembra-o com alegria mas sem lhe atribuir demasiada importância.

E foi assim que nos chegou este fantástico testemunho.

Memórias de uma Vida no CTE

Cheguei a Portugal no dia 8 de abril de 1965. Tinha apenas dez anos quando desembarquei com a minha família — meu pai, o Comandante Carlos Fiuza, minha mãe Margaret, minhas irmãs Lydia e Angela — para uma nova fase das nossas vidas. Viemos do Brasil, trazidos pelo contrato de 4 anos do meu pai com a TAP, e nos instalámos no Estoril, um lugar que viria a ser o pano de fundo de quase todas as minhas memórias.

Foi nesse mesmo ano que me tornei sócia do Clube de Ténis do Estoril. O CTE era muito mais do que um clube. Era, para mim, um refúgio, um campo de possibilidades, um espaço onde cresci — dentro e fora das quadras.

Meu primeiro professor de ténis em Portugal foi o inesquecível Geza Adam Torok. Logo depois, fui orientada por Olívio Silva, que se tornou não só meu treinador, mas um querido amigo. Sob o olhar atento e paciente desses mestres, aprendi a competir, a perder e a vencer — e, acima de tudo, a respeitar o jogo e os seus ensinamentos. Foi no CTE que construí os alicerces da minha juventude. Passei ali os melhores anos da minha vida, entre treinos, torneios, amizades e sonhos. Os campos do clube não eram apenas de jogo — eram campos de crescimento, de formação de caráter, de aprendizagem sobre a vida.

Monte Estoril Deborah Fiuza contra Ico Ribeiro da Cunha e Paula Lefevre
Monte Estoril Deborah Fiuza contra Ico Ribeiro da Cunha e Paula Lefevre
Deborah Fiuza
Deborah Fiuza

Ao longo de cinco anos intensos de dedicação total ao ténis, alcancei vários títulos nas categorias infantil, júnior e sénior, incluindo três campeonatos nacionais. Em 1975, joguei o Australian Open em singulares e pares. Em 1978, vivi um momento único: fui a primeira, e até hoje a única, portuguesa a disputar pares mistos em Roland Garros. Tive a honra de representar Portugal em dois Federation Cups — uma em Madrid e outra em Santa Clara, em 1982.

O ténis levou-me pelos quatro cantos do mundo: América do Sul — Argentina e Brasil; Estados Unidos — nos circuitos Avon Futures; África do Sul — no Sunshine Circuit; Austrália — com passagens por Perth, Adelaide, Brisbane, Hobart, até chegar ao lendário Kooyong, onde joguei em relva; Nova Zelândia — Auckland e Christchurch. Pela Europa, deixei marcas em Espanha, França, Itália, Inglaterra, Grécia, Sicília, Áustria… E levei sempre comigo o espírito do CTE.

O que nunca saiu de mim foram os laços que criei nessa fase. As amizades feitas nas quadras continuam presentes, mesmo com o passar das décadas. Algumas viraram família do coração.

Os meus maiores apoiadores sempre foram os meus pais. A minha mãe, Margaret, era a estrutura invisível que mantinha tudo em equilíbrio; o meu pai, o companheiro de todas as horas, o grande entusiasta do meu percurso. A eles, devo tudo.

Mais tarde, encontrei o meu melhor amigo e casei-me com ele. Michael de Mello foi o parceiro com quem construí uma nova etapa da minha vida. Tivemos três filhos: Maria, Joyce e Carlos. A família cresceu com os genros e noras — Mário, Diogo, Eliza e Emma — e uma neta que ilumina nossos dias.

Depois do ténis, descobri o golfe — e não resisti em competir mais uma vez, conquistando títulos nacionais como mid amateur e sénior. E quando o golfe deu lugar a algo novo, chegou o Pickleball. Tornou-se uma paixão familiar, e em 2020, durante os tempos difíceis da pandemia, criámos na nossa casa o CPE — Clube de Pickleball do Estoril. Enquanto tudo estava fechado, o CPE manteve-se aberto, com risos, movimento e união.

Deborah Fiuza e Olívio Guerreiro
Deborah Fiuza de Mello e Olívio Guerreiro

Hoje, vejo com alegria o CTE preparando a abertura de três novos campos. E penso: quanta coisa mudou… e, ao mesmo tempo, quanta coisa permanece. O espírito do clube, os valores, a dedicação, o amor ao desporto — tudo isso continua intacto.

Resumir 70 anos de vida não é fácil, mas posso dizer, com o coração cheio, que sou profundamente grata — pela minha família, pelos amigos, pelos caminhos percorridos e, acima de tudo, pelo Michael, com quem construímos esta vida maravilhosa. E ao CTE, a minha gratidão por ser parte essencial da minha história.

Parabéns, CTE, pelos vossos 80 anos. Que continuem a ser palco de tantos outros sonhos, como foram os meus.

Com carinho,

Deborah Fiuza de Mello

Telefone 21 466 27 70 Telemóvel 91 226 87 95
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